Cartas de Amor
Teresa sofria. As janelas não puderam guardar o segredo por muito tempo.
Botelho e Albuquerque juntos!Você desonra a família rapaz! Seu avô se reviraria no túmulo! Não esqueça Simão, do nome que carregas! Uma dama, uma dama dos Albuquerque, seu único e eterno nome! Já para Coimbra! Já para o convento!
Nem Coimbra, nem o convento de Viseu eram tão distantes ou intransponíveis que uma carta de amor não pudesse alcançar. A mendiga sem nome levava e trazia as esperanças e desesperanças de tempos difíceis.
"Simão, meu esposo", "posso amar-te no degredo", "são alguns dias de tempestade e mais nada", "considero-te perdida, Teresa", "como isto é triste, meu querido amigo"
Simão aguardava ansiosamente os envelopes. Sentia o perfume de Teresa nas folhas. As letras por vezes corridas, outras, arredondadas demonstravam as oscilações da alma
As perfumadas cartas de amor caíram em desuso. Existem hoje frias mensagens eletrônicas, as letras digitadas que por vezes escondem os segredos da caligrafia sincera.
As mensagens de amor precisam ter cheiro, precisam das letras arredondadas, das pautas e dos envelopes.
Pobres donzelas que não conhecem o papel de carta! Infelizes rapazes pouco experimentados no manuseio da caneta.
As tristes letras atravessaram colinas, ventos e tempestades até chegarem nas mãos de quem aguardava boas notícias. Elas não vieram, a caligrafia não mentia. O destinos de Simão e Teresa era amargamente selados.