sábado, 28 de novembro de 2009

Camilo Castelo Branco 2




Cartas de Amor
"Meu pai diz que me vai encerrar por tua causa. Sofrerei tudo por amor de ti. não me esqueças tu e achar-me-ás no convento, ou no céu, sempre tua do coração, e sempre leal. Parte par Coimbra. Lá irão dar as minhas cartas; e na primeira te direi em que nome hás de responder à tua pobre Teresa"

Teresa sofria. As janelas não puderam guardar o segredo por muito tempo.

Botelho e Albuquerque juntos!Você desonra a família rapaz! Seu avô se reviraria no túmulo! Não esqueça Simão, do nome que carregas! Uma dama, uma dama dos Albuquerque, seu único e eterno nome! Já para Coimbra! Já para o convento!

Nem Coimbra, nem o convento de Viseu eram tão distantes ou intransponíveis que uma carta de amor não pudesse alcançar. A mendiga sem nome levava e trazia as esperanças e desesperanças de tempos difíceis.

"Simão, meu esposo", "posso amar-te no degredo", "são alguns dias de tempestade e mais nada", "considero-te perdida, Teresa", "como isto é triste, meu querido amigo"



Simão aguardava ansiosamente os envelopes. Sentia o perfume de Teresa nas folhas. As letras por vezes corridas, outras, arredondadas demonstravam as oscilações da alma

As perfumadas cartas de amor caíram em desuso. Existem hoje frias mensagens eletrônicas, as letras digitadas que por vezes escondem os segredos da caligrafia sincera.

As mensagens de amor precisam ter cheiro, precisam das letras arredondadas, das pautas e dos envelopes.

Pobres donzelas que não conhecem o papel de carta! Infelizes rapazes pouco experimentados no manuseio da caneta.

As tristes letras atravessaram colinas, ventos e tempestades até chegarem nas mãos de quem aguardava boas notícias. Elas não vieram, a caligrafia não mentia. O destinos de Simão e Teresa era amargamente selados.

Camilo Castelo Branco


Namoro na janela


"Simão Botelho amava"


Isso explicava tudo!

O adolescente rebelde já não era o mesmo. Desprezava as antigas, e más, companhias,tornava-se um garoto caseiro e reservado. Ele amava... Tinha borboletas no estômago,andava nas nuvens, sonhava acordado com... Com a dama mais pura, mais bela e inacessível, Teresa de Albuquerque.

Para contrariar, os jovens amantes pertenciam a famílias eternamente rivais.

Pela janela se viram por três meses, planejaram uma vida inteira. Sim, ele voltaria para Coimbra, terminaria seus estudos, enfrentaria seus pais. Se casariam, seriam felizes...

Debruçados nas janelas secretamente namoravam, o sorriso, o olhar, até o levantar das sobrancelhas dizia muita coisa.

As janelas são aliadas do amor. Mesmo quando tudo conspira ao redor, as janelas estão sempre lá, apoiando o jovem casal de namorados,a moça que veste seu mais lindo vestido e espera ansiosamente o grande amor virando a esquina. Ai de Romeu e Julieta se não fosse aquelas janelas em Verona!Rapunzel não seria resgatada pelo príncipe se no cocoruto da torre não se erguesse salvadora a janelinha de madeira.




A janela dos Botelho e a janela dos Albuquerque tudo planejaram. Apesar do inverno, estavam casualmente escancaradas. Permaneceram bem abertas durante três meses, amigas e cúmplices daqueles jovens destinados a viver e amar para sempre junto às grades.

GLVZ